sábado, janeiro 8

Teorias da Morte III

Acordo de manhã, o sol invade o quarto pela janela, sendo difundido ligeiramente pelos cortinados. Espreguiço-me enquanto me sento na cama, olhando para o resto do quarto, num ritual diário. Algo parece diferente, estranho, mas não consigo precisar o que será. Ignoro. Calço os chinelos e digiro-me à cozinha para comer qualquer coisa, mas não tenho fome. Abro o frigorifico e este está vazio. Estranho, podia jurar que ontem havia comida aqui. Espreito então a dispensa e está igualmente desguarnecida. Pelo meo relógio, são meio-dia e catorze. Procuro sair de casa e ir às compras, embora a sensação de assombro aumente ligeiramente. Continuo sem conseguir explicar o que sinto. Saio de casa, não está ninguém na rua, todos os carros estão parados. Não há crianças a brincar no parque, não há idosos à janela, não há condutores a praguejar enquanto se dirigem ao condutor da frente, porque ele o terá irritado com algum comportamento no asfalto. Nada. Porque é que não se passa nada? Onde está toda a gente? Porque é que terá toda a gente desaparecido? Faz-se luz. Não literalmente, não se trata de radiação eletromagnética de parte de um espectro eletromagnético. Tive uma epifania. E se não foi toda a gente que desapareceu, mas eu? Na dúvida espero mais uns dias, mas o resultado não muda. A única diferença é que eu durmo, mas não como, não tenho fome. Nada muda. Ninguém apareceu. Como uma espécie de nómada, consegui viajar durante milhares de quilómetros, viajando e visitando o que em vida nunca consegui. Pelo menos tiro esta conclusão. Morri. Ontem acho que ainda estava vivo, mas agora já não.