sábado, agosto 24

Pangea

Hoje foi dia de festa. Não para mim, mas para o puto que celebrou um ano e nove meses desde que foi concebido. Família reunida. Refrigerantes e muita variedade de bolos em cima da mesa. Ruídos próximos e distantes, num mar de timbres, intensidades, volumes e tons diferentes, acordados e a percorrer pela sala, quase como se cada conversa individual se quisesse destacar das outras, como se numa corrida terminal, onde aquela que se perde, para sempre morre, neste cenário que é típico de uma festa de aniversário - ou pelo menos para mim sempre fora. 
Foi a primeira festa que aconteceu desde à muito tempo, tanto tempo que eu sei lá, agora, depois deste tempo todo, foi estranho, sei que de facto é a minha família e que aqueles humanos, a sua presença nunca me foi indiferente, mas agora tornou-se diferente? Senti-me outdated ali, porque sempre idolatrei aqueles que outrora foram jovens e agora.. Agora, senta-te ao pé de mim, vamos falar. Pelo menos é o que ambos vamos pensar que vai acontecer. Mas passam dois minutos e a cerveja já acabou, parece-me uma boa saída de cena, ao ir deita-la fora.
O que aconteceu com vocês? Apesar de ter mentalidade para saber que tenho de aceitar os assuntos que não tenho culpa, mas de uma forma interminável, houve termo. Tenho de me consciencializar disso. Algo aconteceu, eu era novo para perceber esses assuntos demasiados pessoais, mas uma coisa eu percebia! A culpa não era minha. De facto nisso acertei, nunca tive a culpa, mas acabei por ser penalizado e ter de lidar com isso. 
Quando se cresce com uma rotina, com um conjunto de pessoas específico e de repente, é como se na historia escrita, nesse livro, os primeiros textos foram escritos e os últimos também, mas no meio a tinta preta com partículas de ferro para canetas-tinteiro fora derramada. Tudo depois disso é estranho. Inevitavelmente. Parece que estou numa sala cheia de gente desconhecida, apesar de os conhecer. 
Espera aí...
Acho que nunca os conheci, apenas sabia seus nomes, idades, identidades, mas se calhar nunca a cheguei a conhece-los na integra. Porque se fossem realmente como eu os conhecera, não se iriam revelar diferentes perante certas e determinadas situações, certo? Não sei, mas acho que quando a criança que cresce acompanhada de ídolos e no momento seguinte é-lhe privada isso, a criança fica com um espaço vazio, por causa daquilo que lhe foi abstido.

Sim, sofri muito com isso, porque não esperava que acontecesse o que aconteceu, da maneira como aconteceu, porque quando a pangea passa para a deriva continental, não volta a ser a pangea, pois não?

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