terça-feira, setembro 12

eventual(mente)

Às escuras.
A luz lunar entra pela janela.
Sentado à mesa de madeira de mogno envernizada, com um copo de vidro na mão esquerda com a mesma em forma de meia-lua, a palma virada para o céu. O copo meio cheio de vinho. Ou será meio vazio? 
Na mesa encontra-se um cinzeiro preto, um coleccionador de cinzas com um cigarro meio fumado enfiado numa das suas quatro ranhuras, o fumo sobe e a cinza, oposta a ele, desce.
A porta abre, um vulto entra e senta-se na cadeira à frente.
- O que se passa?
- Nada de mais.
- Sabes, não precisas de dar essas respostas pré-formatadas. Podes pensar naquilo que sentes e responder-me.
- Epá, não sei, ando confuso...
- Confuso com o quê?
- Com a vida? A vida que eu achava tão bonita, tão bela. Agora procuro em todos os cantos, em todos os fardos, em todos os fados, razões para a achar bela.
- O que mudou, meu?
- Well, tudo?
- Tudo é muito..
- Tudo é tudo.
- Se tudo mudou, tu também mudaste? Sabes, a nossa mudança é aquela que mais custa a assimilar porque como mudamos e lidamos connosco todos os dias, nem damos conta, mas nós mudamos.
- E eu mudei. Já não sou a pessoa que era, não sou a pessoa que quero ser.
- Então quem és?
- Neste momento sou um cadáver ambulante.
- Tens sempre a música.
- A música? Se eu não tiver a música, que razões tenho eu para viver? 
- De certeza que há imensas razões aí para viver.
- Mas viver não significa só estar vivo e estar vivo é para viver por algum propósito, algum objetivo, algo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário